quarta-feira, 20 de maio de 2009

Audiência reforça formação humanística e ética


Cleonice Henn (MEC), Manuel Carlos Chaparro,
JB Oliveira (OAB), José Marques de Melo, Sérgio
Mattos e Eduardo Meditsch (foto: Paulo R. Botão)

O ensino do jornalismo deve ter como referência uma profunda formação humanística e sobre os valores essenciais da profissão. A afirmação sintetiza a grande maioria das recomendações ouvidas durante a terceira audiência pública promovida pela Comissão de Especialistas em Formação Superior do Jornalista, realizada em São Paulo, no auditório da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no último dia 18.

Além de representantes de mais de 20 instituições da sociedade civil, os participantes e integrantes da comissão de especialistas, tiveram a oportunidade de ouvir, durante aproximadamente quatro horas, a opinião de dois convidados, os jornalista Eugênio Bucci e Caio Túlio Costa.

Para o presidente da Comissão, professor José Marques de Melo, a audiência foi a de maior densidade. “É fundamental ouvir a sociedade, por que o jornalismo é o oxigênio da democracia”, afirmou.

O processo foi elogiado pela representante do Ministério da Educação, Cleonice Matos Henn. Ela ressaltou a metodologia proposta pela comissão, que no primeiro encontro com o ministro Fernando Haddad, em fevereiro deste ano, propôs a abertura de uma consulta pública na Internet e a realização de três audiências públicas, para ouvir a área acadêmica, o mercado e os profissionais e a sociedade civil.

Ética e humanidades
O convidado Eugênio Bucci defendeu a formação em dois eixos: da linguagem e da democracia. No primeiro, propõe uma ruptura com a atual compartimentação do ensino atrelada às mídias tradicionais. No segundo, um ensino que reforçe a dimensão da independência do jornalismo. “É preciso mergulhar na essencialidade do jornalismo”, disse. Bucci também defendeu a necessidade de uma sólida formação humanística e em teorias da comunicação. “Não há jornalismo fora do âmbito das teorias da comunicação”, enfatizou.

A formação humanística também apareceu com destaque nas proposições do jornalista Caio Túlio Costa, para quem outra dimensão fundamental é a da ética. Costa alertou para a necessidade das escolas ficarem atentas à mudança revolucionária provocada pela Internet nos processos sociais e tecnológicos de comunicação. E foi enfático: “o quarto poder acabou”.

Defendeu, por outro lado, a possibilidade de se instituir uma alternativa de formação complementar para graduados em outras áreas, e que após esta complementação estariam aptos ao exercício do jornalismo. Nesta perspectiva, a formação deveria privilegiar as questões de natureza ética, lingüísticas e multimídia.

A posição foi questionada pela representante da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Valci Zucoloto, para quem um curso de curta duração não daria conta de atender todas as dimensões da formação profissional exigidas para o exercício do jornalismo.

Valci alertou para o fato de que a formação do jornalista contempla dimensões éticas, teóricas, técnicas e metodológicas. Também destacou que a manutenção de uma formação abrangente é uma garantia fundamental para a qualificação do jornalismo, o que atende a uma demanda fundamental da sociedade pelo direito à informação.

A importância de uma formação teórica aliada à prática, como condição para o exercício de um jornalismo crítico também foi defendida por diversas instituições, entre as quais a Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais). A representante da organização chamou a atenção para a necessidade de uma discussão crítica sobre a convergência das mídias e para o fato de que o conteúdo da Internet não é jornalismo, por mais que possa em muitos momentos se constituir em informação cidadã.

Após esta terceira audiência a Comissão de Especialistas fará uma sistematização de todas as contribuições que recebeu e deverá produzir um documento final a ser encaminhado ao ministro da Educação. O prazo para a conclusão desta primeira etapa dos trabalhos é o dia 12 de agosto. Após este período o processo passará a ser encaminhado no âmbito do Conselho Nacional de Educação, órgão a quem compete propor formalmente as novas diretrizes.

Documento FNPJ
Após esta rodada de audiências públicas, o FNPJ finaliza, ainda nesta semana, uma atualização do seu documento “Proposta do FNPJ para a reformulação das diretrizes curriculares em Jornalismo”.

Uma versão inicial do documento foi entregue à comissão de especialistas na primeira audiência pública, em fevereiro. Esta versão também foi colocada em debate durante do XII Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, realizado em abril, em Belo Horizonte, e através de um site especifico criado pelo Fórum.

Todas as contribuições foram sistematizadas por uma comissão do Fórum que mantém atuação conjunta com representantes da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e SBPJor (Associação Brasileira de Pesquisa em Jornalismo).

Para conhecer a versão preliminar do documento acesso: http://www.diretrizesjornalismofnpj.blogspot.com/

Outras informações e análises podem ser encontradas em:
Monitorando
Portal do MEC
Observatório do Direito à Comunicação

Paulo Roberto Botão
Diretor Editorial e de Comunicação do FNPJ